Assentamento Chico Castro Alves

17/04/2018

Nossa Caravana já está circulando! A indicação para chegarmos ao lugar da apresentação é a entrada do assentamento. O celular já não funciona e, como em nosso espetáculo, os palhaços estão ali perdidos, buscando um sinal para conseguir falar com o pessoal.

O sinal aparece e, assim como a agulha e a linha da Dona Creuza, começamos a bordar nosso encontro com o assentamento Chico Castro Alves.

Meu primeiro olhar se direciona a ela, Creuza Maria Lopes, alagoana de 91 anos. Ela me cumprimenta de longe e faz um gesto para que eu me aproxime. Me recebe com um abraço forte e já abre sua casa para que eu conheça sua história. Nas paredes, fotos. Uma em especial me chama atenção, uma foto antiga pintada à mão dos 10 filhos, igualzinha à que minha vó tinha na parede da sua casa. Penso em como aquela história se alinhava com a de minha família, que também cresceu na roça do Paraná. Tão distante e tão perto de mim, me envolvo nos retalhos desse povo brasileiro, que sou eu, que somos nós.

Dona Creuza exclama: – Eu ainda trabalho, venha ver os meus tesouros.

Eu, com olhos de curiosidade, descubro suas duas máquinas de costura, seus tapetes, colchas, almofadas… Dona Creuza, com suas três cirurgias de córnea, é o exemplo da luta, da força e da potência de uma mulher, mãe e trabalhadora rural. Ela é mãe de Antônio Lopes, um dos líderes responsáveis pela criação do assentamento, em 1988.

Entre vacas, galinhas, mandiocas, bananeiras, porcos, abacateiros, vou tecendo com a imaginação minha colcha de retalhos da história da luta por aquela terra.

Seu Antônio explica para a gente todo o processo, desde a ocupação, as promessas que fizeram para as famílias, a ambição de alguns, o descaso de outros, os remendos necessários para costurar esse assentamento.

Quando chegou vinham com ele 12 famílias. Fizeram-lhe uma proposta, de que ele tivesse a terra dele e desencanasse da terra para as outras famílias. Com olhos de quem sabe o que é lutar pelo coletivo, ele fala: – Você acha que eu deixaria o pessoal na mão? Eu coloquei todos lá e fui o último a receber meu lote.

A importância daquela fala do seu Antônio era o nozinho que a gente dá quando coloca a linha na agulha.

Não faz sentido ter tudo sozinho, não faz sentido não dividir. Seja terra, conhecimento, afeto, compartilhar é algo que faz muito sentido para mim. Entender a reforma agrária e a sua importância, ver como a distribuição das terras é um caminho tão coerente…

Me deito na rede, respiro tudo isso, bordo minha colcha, que leva o sorriso de Dona Creuza me dizendo que o espetáculo foi maravilhoso, que se a gente morasse mais perto ela não me daria sossego.

Em um abraço tão forte quanto da chegada eu me despeço. E assim cantamos a despedida desse potente encontro:

Minha gente vamo embora
Já era é hora de partir
Vamos ver quem tem agora
Outra história pra sorrir.
(Música do grupo rapsodos de mil fábulas)

Por Aline Moreno, Palhaça Donatella

Comentários

  1. Agora vocês fazem parte da família sejam bem vindos.
    Vcs me fizeram chorar lendo isso pois estou aqui em marabá Paulista morrendo de saudades de minha família em especial minha avó linda que tato amo obrigado a todos vcs por fazer ela feliz.

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