Parte II - Assentamento Luiz Beltrame - 29/04/2018

Mais relatos da nossa última caravana!

Despertamos, durante o café da manhã tive uma bela conversa com o Rafa e o Zézinho, eles me contavam a história do assentamento.

Antes, o assentamento era a fazenda Paraíso, tinha 2900 hectares ou 2900 campos de futebol. Foi parte dessa terra que estava ilegal que o movimento conseguiu ocupar. Foram 5 anos acampados na beira da estrada antes de conseguirem a autorização do INCRA para ocuparem a terra, depois disso, passaram 5 anos que as famílias estão assentadas. São 77 famílias que receberam 9,5 hectares de terras cada. Ao lado do assentamento grandes fazendas produtoras de laranja que pulverizam veneno nas plantações com uso de aviões. (Link: http://portaljfonte.com.br/o-veneno-que-vem-do-ceu/)

“Eu trabalhei na colheita de laranjas, no final do trabalho não tinha jeito de tirar aquele cheiro de veneno de mim. Mesmo com banho a gente ficava impregnado por um mês.” Rafa.

“Depois que passa o avião fica todo mundo coçando” Zezinho

Bummmm! Fiquei arrasado, adoro suco de laranja. Fui atrás desses tais venenos, e a coisa só fica pior. Se vc fizer uma pesquisa rápida, vai ver que o brasileiro é um dos maiores consumidores de veneno do mundo e o veneno utilizado nas plantações de laranja são proibidos na Europa. (Link: https://oglobo.globo.com/sociedade/saude/brasil-lidera-ranking-de-consumo-de-agrotoxicos-15811346)

Visitamos o lote do Thiago, que fica logo na frente da casa onde dormimos. Lá tivemos aula de sistemas agroflorestais ou SAF. Esse novo sistema vem sendo a revolução na forma de produção agrícola, onde se prioriza a diversidade e o não uso de adubos químicos e veneno. Esse sistema foi introduzido no Brasil pelo Ernst Gotsch, agricultor e pesquisador suíço, criador do conjunto de princípios e técnicas que compõem a Agricultura Sintrópica. (Link: https://www.youtube.com/watch?v=SKl3_Xigjyc)

Tive uma conversa longa com o Thiago sobre modelos de produção de alimentos. E o mais interessante é que em seu lote ele tem as duas formas de plantação, as tradicionais e o SAF. Em sua análise, o novo sistema SAF que ele implementou a um ano, tem sido mais eficiente e tem uma produção maior, muitas pragas foram eliminadas com uso de plantas como o feijão guandu. E a colheita de milho foi 3x maior e com melhor qualidade no modelo SAF. Ele pretende aumentar pouco a pouco esse modelo em seu lote.

Depois disso, mais da mesma história. Fomos ao lote do Zezinho, da Selma e do Diogo, do Rafa e todas histórias parecidas. Vejo o contraste do uso das terras pelo movimento e pelos fazendeiros vizinhos, uma grande monocultura agressiva de mandioca, laranja e eucaliptos.

Nos preparamos para a última apresentação, tivemos alguns problemas de luz, uma correria. A lona foi montada debaixo de uma grande árvore, pisamos no cocô, botamos o dedo no cocô... O público começou a chegar e não tínhamos luz. Então, todos começaram a ajudar, público e artistas se organizando para decidir onde seria o melhor local da apresentação. Mudamos de lugar, todos carregaram um pouco dos objetos de cena e cenário. Zezinho trouxe a luz, aeeeeeee!!!

O espetáculo começou e Matheus se tornou a grande atração: menino de 8 a 9 anos com síndrome de down. Entrou na apresentação e tornou-se parte do espetáculo. Nós palhaços o acolhemos e no final do espetáculo ele foi aplaudido junto com a gente.

Somos recebidos em outra casa com uma janta delícia, muita prosa e por fim fomos dormir felizes, com a sensação de dever cumprido, depois de conhecer um pouco mais do MST, a luta, as lideranças, a causa, o dia a dia, as pessoas, os bichos, voltaremos a casa e tudo continua.

Por Arthur Toyoshima, palhaço João Pierre.

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