Xixi no Shorts

Gleba XV de Novembro
(23 e 24 de abril)

Palhaços na estrada novamente para encontrar nosso próximo paradeiro, já de costume o sinal do celular desaparecer nos pontos onde deveríamos encontrar Marcelo, professor de biologia em algumas escolas da região e militante do MST. Claro que passamos o ponto de encontro combinado e fomos parar numa entrada qualquer mais à frente. Um simpático caminhoneiro nos direcionou para a entrada correta, seguimos o direcionamento e fomos parar em uma rua sem saída que dava no portão de uma casa com um cão bem do mal humorado e grande. A dona, muito simpática, nos direcionou para outra entrada. Mais um pouco de estrada e de longe avistamos um rapaz de camiseta vermelha em cima de uma moto, lendo um livro: era Marcelo, pessoa simpática demais da conta.
De lá partimos para a escola Zangarini, onde faríamos 2 apresentações nesse mesmo dia. Fomos super bem recebidos pela diretora da escola que logo nos ofereceu de almoçar - almoço delícia mas péssima idéia, já que ficamos parecendo jibóias prontas para a siesta longa e tínhamos que montar o cenário rapidamente pois dali a 1 hora entraríamos em cena para una plateia de adolescentes, em sua maioria.
Neste dia as duas apresentações foram ótimas. Plateia de adolescentes é sempre um mistério, nunca se sabe quantos aborrecentes estarão entre eles, mas não foi o caso. Neste dia, entre a apresentação da noite e da manhã, fomos para a casa do Marcelo deixar nossas coisas e nos assentar na casa. Marcelo montou sua barraca no lado de fora para que tivéssemos mais espaço na casa para nos acomodar, tamanho o coração deste professor.
Depois da apresentação da noite, voltamos para casa e acabamos indo um pouco noite adentro conversando, rindo e compartilhando, ótimos momentos que resultaram em poucas horas de sono para o dia seguinte, já que tínhamos 2 apresentações, uma na sequência da outra mas em escolas distintas, sendo que a primeira era as 8:00, acordamos as 6:00. Definitivamente o dia mais cansativo da viagem até agora.
A primeira apresentação, o maior público que tivemos dentro de uma escola, foi a que deu o título deste relato: Xixi no shorts.
Mas antes de contar sobre este ocorrido, nossa segunda apresentação do dia 24 foi bem peculiar. Temos uma cena em que uma família de caratecas quebra pedaços de madeira para mostrar sua força. Resolvemos então nomear essas madeiras com aquilo que nos opomos: Temer, Bolsonaro, Agrotóxico e por aí vai. Em uma dessas madeiras escrevemos Agronegócio e no momento em que mostramos que iríamos quebrá-la, houve uma comoção negativa de uma pequena parte da plateia. Assim que acabou o espetáculo, abrimos o bate papo para a plateia e nos posicionamos com relação aos malefícios do agronegócio. Acabamos descobrindo que já há um curso entitulado "agronegócio" de iniciativa do PSDB.
Voltando à casa do Marcelo, em meio a prepararmos nossas malas, descansar e bater papo sobre o espetáculo, a vida, o movimento ou o que quer que fosse, havia um menino da vila rural que estava conosco e perguntei a ele qual a parte que ele havia curtido mais da peça. Ele disse que tinha sido o momento onde pôde ver a cueca do mestre carateca aparecendo e que um amigo dele tb tinha achado e que tinha se mijado de rir. Eu pensei  "claro, maneira de dizer", mas ele disse que o menino havia se mijado de verdade e que teve que trocar o shorts por um outro, limpo.
E assim, partimos para o próximo assentamento, com a sensação de que tínhamos feito as crianças darem tanta risada a ponto de fazerem xixi no shorts.

Por Paulo Candusso, palhaço Gambito

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